Por Luis Francisco Espíndola Camargo

Enquanto coordenador de um dos observatórios da FAPOL no Brasil – Legislação, Direitos, Subjetividades Contemporâneas e Psicanálise – uma pergunta insisti em orbitar durante as reuniões com o Bureau: o que é e quais as funções de um observatório?

Pode-se encontrar uma resposta por meio da redução do conceito de observatório da astronomia: o lugar de observação dos eventos terrestres e celestes a serem descritos, estudados e explicados por algumas ciências, como a astronomia, a climatologia, a geologia etc. Neste caso, o olhar opera no primeiro plano, já que nesses observatórios se trata de objetos visíveis como variações luminosas e emissões de gazes de determinadas estrelas, nebulosas, galáxias e quasares etc.

É impossível observar sem nomear, sem classificar e sem interpretar minimamente o seu entorno. Ao mirar um objeto, adota-se uma determinada perspectiva sobre uma unidade de observação. E, talvez, seja por isso que encontramos variedades de objetos nos observatórios da FAPOL como a violência, as mulheres, as legislações, os direitos, as infâncias, o autismo etc. No caso do Observatório de Legislação, Direitos, Subjetividades Contemporâneas e Psicanálise creio que os três primeiros objetos devam ser observados na sua relação com a psicanálise. Em suma, não temos aí uma atenção flutuante, mas uma atenção dirigida para azimutes determinados.

De maneira geral, observatórios e antenas servem como analogias para descrever a função dos nossos grupos de trabalho, o primeiro mais aplicável aos objetos visíveis, enquanto o segundo aos objetos invisíveis, mais próximos aos do campo psicanalítico.

A analogia com os observatórios astronômicos é mais apropriada quando pensamos que a estes grupos de trabalhos não cabe uma elaboração teórica e explicativa dos eventos, mas fornecer os dados a serem tratados por outras instâncias, os Institutos e as Escolas, provocando a elaboração de estudos, de interpretações e, até mesmo, de ações. Os Institutos parecem ser mais fortes e permissíveis ao discurso do Outro, enquanto as Escolas, mais sensíveis e avessas a sua imiscuição.

Ao pensar o observatório como pele não pensei na função fisiológica de proteção que este órgão tem em relação aos outros órgãos do corpo humano. Pensei na sua função sensorial constituída pelo tato. Por um lado, os observatórios têm função de visão e de audição, haja vista que eles podem também ser antenas quando servidos de um radiotelescópio. Já o observatório como pele introduz uma terceira função, a do tato, significante que na língua portuguesa corresponde não só ao sentido da percepção das formas, temperatura, texturas e consistências de um objeto que toca o corpo, mas também o sentido de ter cautela e prudência no agir; o que denominamos de tino e sensibilidade para dizer ou fazer algo numa situação delicada. Assim, apesar de não ter pensado inicialmente na função de proteção que tem a pele, cabe ressaltar que alguns eventos exteriores podem ser uma ameaça à existência da psicanálise na sociedade. Por exemplo, regimes extremistas e autoritários, bem como tentativas de regulamentação da sua prática por grupos estranhos. A pele faz parte do sistema sensorial e perceptivo. É um órgão que alerta as alterações bruscas existentes entre um exterior e um interior por meio de seus poros. Talvez essa metáfora possa servir para pensarmos como poderíamos transmitir aos demais órgãos as sensações obtidas do mundo exterior. Como provocar a Escolas e os Institutos? Esta já não seria uma ação própria dos observatórios da FAPOL: a provocação com um devido tato?