CITACÕES:
“Nestas condições, não nos surpreendamos que essa reivindicação igualitária se traduza no desaparecimento programado da clínica. Todos os tipos clínicos são progressivamente subtraídos do grande catálogo clínico, já rebaixado e desconstruído pelas sucessivas edições do DSM. E isto em um tempo no qual todos os indivíduos acometidos por um transtorno mental, por uma deficiência, pelo que antes era considerado como anormalidade, se associam e formam grupo. Esses grupos, juridicamente fundamentados, inscritos, são com frequência constituídos como grupos de pressão – até mesmo os dos autistas, dos ouvidores de vozes etc. Tudo anuncia que a clínica logo será coisa do passado. Cabe a nós alinhar nossa prática a essa nova era, sem nostalgia, sem amargura, sem espírito de vingança.
Num tal contexto, o aforismo lacaniano só pode ser interpretado como assumindo, validando um termo que está de agora em diante em uso (nós o ouvimos ressoar mais de uma vez durante esta Grande Conversação): a ‘despatologização’. Não haverá mais patologias, haverá, já há, em vez disso, estilos de vida, livremente escolhidos – uma liberdade imprescritível porque ela é a dos sujeitos de direito (droit). Digamos que o reto (droit) leva a melhor sobre o torto.”
MILLER, Jacques-Alain. Todo o mundo é louco. Apresentação do tema do XIV Congresso da AMP, 3 de abril de 2022.
Disponível em: https://congresamp2024.world/pt-br/todo-mundo-e-louco/.