Na na reunião do Conselho da Fapol, em 15 de dezembro de 2024, foi aprovada a criação da Real (Rede de Estudos sobre o Autismo na América Latina) sob os auspícios da Associação Mundial de Psicanálise (AMP) e do Campo Freudiano.

A Real tem por finalidade enlaçar a força do trabalho dos praticantes da orientação lacaniana no âmbito da Fapol, em linhas de estudos, pesquisas e conversações sobre o que o encontro com o autismo ensina à experiência da psicanálise quando o fazemos falar. Através dessa Rede, a aposta é que o intercâmbio das experiências abertas a novas perspectivas de leitura e ação possa fazer avançar a própria experiência analítica e sustentar a presença da psicanálise de orientação lacaniana e seu testemunho na batalha do autismo na América Latina.

REAL – Rede de Estudos sobre o Autismo na América Latina 

FALAR AO AUTISTA

Da vertiginosa subida do autismo a cenários públicos diversos emergem incontáveis teorias e práticas de amplo alcance, que tentam abordar tanto a dimensão da causa como do tratamento do autista. REAL es uma Rede de estudos e investigações sobre o autismo criada pela FAPOL para as três Escolas de América – EOL, EBP e NEL – para destacar novas perspectivas de abordagem do autismo que, no lugar de impor condutas normativas ou homogêneas, dão lugar ao sujeito autista e acolhem sua singularidade.

Parece claro que o que se escuta do sujeito autista determina, em boa medida, o modo de dirigir-se a ele. Desta maneira, um dos aspectos de maior consideração é o lugar que tem a linguagem como instrumento de intervenção, mais ainda, se o autista não dispõe de uma fala efetiva. É este impossível que orientará o que se pode dizer ao autista, desprovido de qualquer intenção comunicativa. Neste sentido, se requer que aquele que se orienta pela psicanálise escute e observe em detalhe os interesses, as posições e as palavras particulares que usualmente defendem o autista do Outro. Este é o ato inicial que abre uma experiência inédita para um e para outro, a reinventar-se a cada vez.

Se partimos da indicação de Lacan segundo a qual aos autistas “há, certamente, algo a lhes dizer”[1], podemos nos perguntar: Como apostar no ensino de Lacan sobre a língua, quando não se conta com o semblante do diálogo, da dialética, da conversação, do laço? Como sermos dóceis a suas ínfimas invenções, para que sejam fecundas? Que possibilidades abre a conversação com seus pais, seus educadores e outros praticantes?

Os interessados no trabalho da rede estão convidados a reunir-se em suas instituições ou em cartéis ao redor de casos que possam contribuir para essa investigação. O produto desse trabalho entre vários será o material clínico ao qual nos dedicaremos nas atividades programadas para as datas: 09/05, 06/06, 04/07 e 01/08, em direção ao XII ENAPOL. Se quer saber mais sobre REAL, envie um mail a real.fapol@gmail.com, apresentando-se.

[1] Lacan, J. Conferência em Genebra sobre o sintoma, in Opção Lacaniana, Revista internacional brasileira de psicanálise  n. 23. São Paulo: Eolia, dez. 1998, p. 12.